quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Por causa de vossa Fé - Jeffrey R. Holland



    Presidente Monson, os membros desta igreja em todo o mundo unem-se nesse hino ao magnífico coro e dizem “Graças Damos, Ó Deus, por um Profeta”. Obrigado por sua vida, por seu exemplo e por essa mensagem de boas-vindas a mais uma conferência geral da Igreja. Nós o amamos, o admiramos e o apoiamos. De fato, na sessão desta tarde, teremos uma oportunidade mais formal de erguer a mão em voto de apoio não apenas para o Presidente Monson, mas também para todos os outros líderes gerais da Igreja. Como meu nome está incluído na lista, tomo a liberdade de falar em nome de todos para agradecer a vocês antecipadamente por seu voto de apoio. Nenhum de nós poderia servir sem suas orações e sua ajuda. Sua lealdade e seu amor significam para nós muito mais do que podemos expressar.
Nesse espírito, minha mensagem de hoje é de que nósos, apoiamos, de que também oramos sinceramente por vocês e de que os amamos tanto quanto vocês nos demonstram seu amor. Sabemos que há chaves, convênios e responsabilidades especiais concedidas aos líderes presidentes da Igreja, mas também sabemos que a Igreja extrai sua força incomparável, sua vitalidade realmente ímpar, da devoção e da contribuição de todo membro desta Igreja, seja ele quem for. Não importa o país em que você more, por mais jovem e incapaz que se sinta, ou por mais idoso ou limitado que você se considere, digo-lhe que você é amado individualmente por Deus; você é essencial para o significado de Sua obra, e é amado pelos líderes presidentes de Sua Igreja, que oram por você. O valor pessoal, o sagrado esplendor de cada um de vocês, é o verdadeiro motivo de haver um plano para a salvação e exaltação. Ao contrário do que se diz hoje, tudo tem a ver com você.. Não, não se vire nem olhe para a pessoa ao lado. Estou falando com você!
Tive dificuldade para encontrar um meio adequado de dizer-lhe o quanto Deus o ama e quão gratos nós aqui neste púlpito somos por você. Procuro ser porta-voz dos próprios anjos dos céus para agradecer-lhe por todas as coisas boas que você fez, por todas as palavras bondosas que já disse, por todo sacrifício que já fez ao levar a alguém, — seja quem for — a beleza e as bênçãos do evangelho de Jesus Cristo.
Sinto-me grato pelas líderes das Moças que vão aos acampamentos com elas e, sem xampu, chuveiro nem maquiagem, transformam esfumaçadas reuniões de testemunhos ao redor da fogueira em algumas das mais marcantes experiências espirituais que aquelas moças — ou aquelas líderes — terão na vida. Sinto-me grato por todas as mulheres da Igreja que em minha vida foram tão fortes quanto o Monte Sinai e tão compassivas quanto o Monte das Bem-Aventuranças. Sorrimos, às vezes, com as histórias das nossas irmãs, vocês sabem: gelatina verde, colchas de retalhos e lanchinhos em reuniões. Mas meus familiares foram os agradecidos beneficiários de cada uma dessas coisas, em diversas ocasiões, e em uma delas, a colcha e o lanche vieram no mesmo dia. Era apenas uma colcha bem pequena — minúscula mesmo — para proporcionar ao corpinho do meu irmãozinho uma jornada de volta ao lar celestial que fosse tão cálida e confortável quanto nossas irmãs da Sociedade de Socorro queriam que fosse. O lanche providenciado para nossa família depois do funeral, oferecido de boa vontade, sem que tivéssemos pedido, foi recebido com muita gratidão. Sorriam, se quiserem, por causa de nossas tradições, mas de alguma forma, são as mulheres menos aclamadas desta Igreja que estão sempre presentes, quando há mãos que pendem e joelhos enfraquecidos. 1 Elas parecem compreender instintivamente a divindade desta declaração de Cristo: “Quando o fizestes a um destes meus pequeninos (…) , a mim o fizestes”. 2
E os irmãos do sacerdócio não ficam atrás. Lembro-me, por exemplo, dos líderes de nossos rapazes que, dependendo do clima e do continente, fazem caminhadas extenuantes de mais de 80 quilômetros (50 milhas) ou abrem cavernas no gelo — e até tentam dormir nelas — nas mais longas noites da experiência humana. Sinto-me grato pela lembrança dos membros de meu grupo de sumos sacerdotes que, há alguns anos, se revezaram por semanas, dormindo em uma pequena poltrona no quarto de um membro agonizante do quórum, para que sua idosa e igualmente frágil esposa conseguisse dormir um pouco, nas semanas finais de vida de seu querido marido. Sinto-me grato pelo exército de professores, líderes, consultores e secretários da Igreja, sem mencionar as pessoas que estão sempre montando mesas e guardando cadeiras. Sinto-me grato pelos patriarcas ordenados, pelos músicos, pelos consultores de história da família, pelos casais com osteoporose que caminham com dificuldade às cinco horas da manhã até o templo, carregando malas quase maiores que eles próprios. Sinto-me grato pelos pais discretos e abnegados que — talvez por toda a vida — cuidam de um filho deficiente, às vezes com mais de uma deficiência, e às vezes com mais de um filho. Sinto-me grato pelos filhos que retribuem mais tarde o carinho que receberam, cuidando de pais enfermos ou idosos.
E pela quase perfeita irmã idosa que, como se pedisse perdão, disse-me recentemente: “Nunca fui líder ou qualquer coisa parecida na Igreja. Acho que só ajudei um pouco”, digo, “Querida irmã, Deus a abençoe, assim como a todos os que ‘ajudam’ no reino”. Alguns de nós, que somos líderes esperamos um dia ter a mesma condição no céu que vocês já alcançaram.
Muito frequentemente deixei de expressar gratidão por essas pessoas que foram tão boas em minha vida. O Presidente James E. Faust subiu a este púlpito, há treze anos, e disse: “Lembro de quando eu era garotinho (…) e minha avó (…) preparava refeições deliciosas no calor do fogão a lenha. Quando a caixa de lenha ao lado do fogão esvaziava, minha avó (…) , sem fazer alarde, saía para enchê-la com lenha de cedro que ficava numa pilha lá fora e depois trazia a pesada caixa de volta para casa. Eu era tão insensível (…) que ficava lá, sentado, e deixava minha querida avó encher [aquela] caixa”. Então, com a voz embargada de emoção, ele disse: “Sempre me arrependi e me envergonhei de minha omissão. Espero um dia pedir-lhe perdão”. 3
Se um homem tão perfeito quanto o Presidente Faust pôde reconhecer essa negligência da juventude, não posso deixar de admitir algo semelhante e prestar hoje um tributo que há muito estou devendo.
Quando fui chamado para servir em uma missão, antes da aurora dos tempos, não havia custos missionários equalizados. Cada um tinha de arcar com todas as despesas da missão à qual tinha sido enviado. Algumas missões eram muito caras, e aconteceu que a minha foi uma delas.
Conforme incentivamos os missionários a fazerem, eu tinha economizado dinheiro e vendido alguns de meus pertences para conseguir o máximo de meu sustento. Achei que tinha dinheiro suficiente, mas não sabia como ficariam as coisas nos meses finais de minha missão. Mesmo com essa dúvida, abençoadamente deixei minha família e parti para a melhor experiência pessoal que alguém pode desejar. Adorei minha missão, e estou certo de que nenhum rapaz, antes ou depois de mim, tenha gostado tanto da missão.
Então, voltei para casa, pouco depois de meus pais terem sido chamados para cumprir sua própria missão. O que eu iria fazer, então? Como é que eu poderia pagar minha faculdade? Como conseguiria me sustentar? E como conseguiria realizar o grande sonho de meu coração, que era o de casar-me com a incrivelmente perfeita Patricia Terry? Não me importo em admitir que me senti desanimado e temeroso.
Hesitante, fui até o banco local e perguntei ao gerente, que era amigo da família, quanto havia em minha conta. Ele pareceu surpreso e disse: “Ora, Jeff, está tudo em sua conta. Eles não contaram para você? Seus pais quiseram fazer de tudo, por mínimo que fosse, para ajudá-lo a iniciar sua vida quando voltasse para casa. Eles não sacaram um centavo da conta durante sua missão. Achei que você soubesse”.
Bem, eu não sabia. O que eu sei é que meu pai, que era o que chamávamos em nossa cidadezinha de “guarda-livros” autodidata, tendo pouquíssimos clientes, provavelmente passara dois anos sem um terno novo ou camisa nova ou par de sapatos novos, para que o filho tivesse tudo isso na missão. Além disso, o que eu não sabia, mas fiquei sabendo então, foi que minha mãe, que nunca tinha trabalhado fora de casa depois de casada, arrumara um emprego numa loja de departamentos local para custear minha missão. E nada disso me foi contado durante a missão. Nem uma palavra sequer foi dita a esse respeito. Quantos pais da Igreja fizeram exatamente o mesmo que o meu? E quantas mães, nesta época de dificuldades econômicas, ainda fazem o que minha mãe fez?
Meu pai já morreu há 34 anos; por isso, tal como o Presidente Faust, vou ter de esperar para poder agradecer plenamente a ele do outro lado do véu. Mas minha querida mãe, que fará 95 anos na próxima semana, está assistindo feliz a esta transmissão em casa hoje, em St. George e, por isso, não é tarde para agradecer a ela. A vocês, Mamãe e Papai, e a todas as mães e pais e famílias e boas pessoas do mundo inteiro, agradeço por terem-se sacrificado tanto por seus filhos (ou pelos filhos dos outros!), por terem desejado tanto dar-lhes as vantagens que nunca tiveram, por terem desejado tanto proporcionar-lhes a vida mais feliz que lhes podiam oferecer.
Agradeço a todos os maravilhosos membros da Igreja — e a legiões de boas pessoas que não são da nossa fé — por provarem a cada dia de sua vida que o puro amor de Cristo “nunca falha”. 4 . Nenhum de vocês é pequeno ou insignificante, em parte por que vocês tornam o evangelho de Jesus Cristo o que ele é: um lembrete vivo de Sua graça e misericórdia, uma manifestação particular, porém vigorosa, em pequenas vilas e grandes cidades, do bem que Cristo fez e da vida que Ele deu, procurando trazer paz e salvação a outras pessoas. Sentimo-nos honrados, mais do que podemos expressar, por participarmos com vocês de uma causa tão sagrada.
Como disse Jesus aos nefitas, digo hoje:
“Por causa de vossa fé (…) , é completa minha alegria.
E depois de haver proferido estas palavras, ele chorou.” 5
Irmãos e irmãs, ao ver seu exemplo, asseguro novamente a minha determinação de ser melhor, mais fiel — mais bondoso e dedicado, mais caridoso e verdadeiro — como é o nosso Pai Celestial e como muitos de vocês já são. É minha oração, em nome de nosso Grande Exemplo em todas as coisas, o Senhor Jesus Cristo. Amém.

Buscai Conhecimento Pela Fé - David A. Bednar

Eu gostaria de exprimir-lhes meu amor pelos irmãos e a gratidão dos Irmãos da liderança da Igreja por sua influência de retidão nos jovens da Igreja pelo mundo afora. Obrigado por ter abençoado e fortalecido a nova geração. Oro que o Espírito Santo possa nos abençoar e edificar ao compartilharmos aqui juntos este momento especial.

Princípios Companheiros: Pregar pelo Espírito e Aprender pela Fé

As escrituras nos admoestam repetidas vezes a pregar as verdades do evangelho pelo poder do Espírito (vide D&C 50:14). Creio que a maioria de nós, pais e professores na Igreja, conhecemos este princípio e, de modo geral, procuramos praticá-lo. Por importante que seja este princípio, trata-se de um elemento só de um padrão espiritual maior. As escrituras também nos ensinam com frequência que devemos buscar conhecimento pela fé (vide D&C 88:118). Pregar pelo Espírito e aprender pela fé são princípios companheiros que devemos nos esforçar para compreender e aplicar simultânea e constantemente.
Desconfio que enfatizamos e conhecemos muito mais a respeito de ensinar pelo Espírito do que conhecemos a respeito de aprender pela fé. Claramente os princípios e processos tanto de ensino como de aprendizado pelo Espírito são indispensáveis.
Porém, ao encararmos o futuro e vermos um mundo cada vez mais confuso e turbulente ao nosso redor, acredito que será essencial que todos nós cresçamos na capacidade de buscar conhecimento pela fé. Em nossa vida particular, em nossa família e na Igreja, podemos receber e certamente receberemos as bênçãos de força espiritual, de orientação e de proteção ao procurarmos obter e aplicar conhecimento espiritual por meio de fé.
Néfi nos ensinou: “Quando um homem fala pelo poder do Espírito Santo, o poder do Espírito Santo leva [a mensagem] ao [até o] coração dos filhos dos homens” (2 Néfi 33:1). Por favor, observem como o poder do Espírito leva a mensagem até mas nem sempre para dentro do coração. Um professor pode explicar, mostrar, persuadir e testificar e até fazê-lo com grande poder espiritual e eficácia. Afinal de contas, porém, o conteúdo da mensagem e o testemunho do Espírito Santo só penetrarão o coração se o aluno os deixar entrar.
Irmãos, aprender pela fé abre o caminho que leva ao o centro do coração. Assim nosso enfoque será na responsabilidade individual que cada um de nós tem de buscar conhecimento pela fé. Também contemplaremos o significado deste princípio para nós como professores.

Um Princípio de Ação: Fé no Senhor Jesus Cristo

O Apóstolo Paulo definiu a fé como “o firme fundamento das coisas que se esperam, e a prova das coisas que não se veem” (Hebreus 11:1). Alma declarou que a fé não se trata de conhecimento perfeito, mas se tivermos fé, teremos “a esperança nas coisas que se não veem e que são verdadeiras” (Alma 32:21). Além disso, aprendemos nas Lições sobre a Fé que a fé é “o primeiro princípio da religião revelada e o fundamento da toda retidão” e que também é “o princípio de ação de todos os seres inteligentes.” 1
Estes ensinamentos de Paulo, de Alma e das Lições sobre a Fé destacam três componentes básicos da fé: (1) a fé é o firme fundamento das coisas que se esperam que são verdadeiras, (2) a fé é a prova das coisas que não se veem e (3) a fé é um princípio de ação em todos os seres inteligentes. Descreverei estes três componentes de fé no Salvador que simultaneamente encaram o futuro, contemplam o passado e dão início a ações no presente.
A fé, como firme fundamento das coisas que se esperam, é voltada para o futuro. Este firme fundamento se baseia no entendimento correto do que significa confiar em Deus e possibilita que “prossigamos com firmeza” (2 Néfi 31:20) para situações incertas e muitas vezes desafiadoras, a serviço do Salvador. Por exemplo, Néfi confiou justamente neste exato tipo de firme fundamento voltado ao futuro quando regressou a Jerusalém para obter as placas de latão—“não sabendo de antemão o que [ele] deveria fazer. Não obstante [ele] seguiu em frente” (1 Néfi 4:6–7).
A fé em Cristo fatalmente se vincula e nos leva à esperança em Cristo para receber nossa redenção e exaltação. E o firme fundamento e esperança fazem com que possamos caminhar até a beira da luz e até dar uns passos além, na escuridão—confiando que a luz logo aumentará e iluminará o resto do caminho. 2  O firme fundamento e a esperança levam à ação no presente.
A fé, como prova das coisas que não se veem, volta-se para as coisas do passado e confirma nossa confiança em Deus e na veracidade das coisas que não se veem. Já entramos na escuridão com segurança e esperança e por isso recebemos provas e confirmação porque a luz de fato aumentou e nos proporcionou a iluminação de que precisávamos. O testemunho que obtivemos depois da prova de nossa fé (vide Éter 12:6) é evidência que aumenta e fortalece nosso firme fundamento.
A confiança, ação e provas se influenciam uma à outra num processo contínuo. Esta hélice é como um espiral que se expande e alarga cada vez mais ao espiralar para cima. Estes três componentes de fé: confiança, ação e provas, não são separados e distintos; em vez disso, são interrelacionados, contínuos e ciclam ao alto. A fé alimenta este processo contínuo que se desenolve, leva à ação e produz provas que, por sua vez, fazem com que aumente nossa confiança. Nossa confiança se torna mais forte, linha sobre linha, preceito sobre preceito, um pouco aqui e um pouco ali.
Podemos encontrar um exemplo marcante da interação entre a confiança, a ação e as provas no caso dos filhos de Israel transportarem a arca do convênio sob a liderança de Josué (vide Josué 3:7–17). Os irmãos devem lembrar-se de que os israelitas chegaram à beira do rio Jordão e receberam a promessa de que as águas se separariam, ou “parariam amontoadas” (Joshué 3:13), possibilitando que passassem em terra seca. É interessante notar que as águas não se separaram enquanto os filhos de Israel esperavam que algo acontecesse; em vez disso, molharam-se as solas dos pés antes das águas se separarem. A fé dos israelitas se manifestou no fato deles terem posto pé na água antes que se separassem. Entraram no rio Jordão com confiança voltada para o futuro nas coisas que se esperavam. Ao avançarem, as águas se separaram e ao passarem ao outro lado em terra seca, viram a prova das coisas que não se viam. Nesta experiência a fé os impeliu à ação e produziu a evidência das coisas que não se viam mas que eram verdadeiras.
A fé verdadeira se focaliza no Senhor Jesus Cristo e sempre nos leva à ação. A fé é um princípio de ação que se destaca em muitas escrituras que conhecemos:
“Porque assim como o corpo sem o espírito está morto, assim também a fé sem obras é morta” (Tiago 2:26; acrescido de letra itálica).
“E sede cumpridores da palavra, e não somente ouvintes” (Tiago 1:22).
“Mas eis que, se despertardes e exercitardes vossas faculdades, pondo à prova minhas palavras, e exercerdes uma partícula de fé. . .” (Alma 32:27).
A fé, como princípio de ação, está no centro do processo de aprender e aplicar a verdade espiritual.

Aprender pela Fé: Agir e Não Receber a Ação

Como é que a fé, o princípio de ação em todos os seres inteligentes, se relaciona ao aprendizado do evangelho? E o que significa buscar entendimento pela fé?
Na grande amplidão de todas as criações de Deus, há o que age e o que recebe a ação (vide 2 Néfi 2:13–14). Como fihos de Nosso Pai Celestial, recebemos o dom de arbítrio, ou seja a capacidade e poder de agir independentemente. Dotados de livre arbítrio, somos agentes cujo papel, na maioria dos casos, é agir e não receber a ação, principalmente no que diz respeito à obtenção e aplicação de conhecimento espiritual.
Aprender pela fé e por experiência própria são dois componentes cruciais do plano de felicidade de nosso Pai. O Salvador preservou o arbítrio moral através da expiação e fez com que fosse possível agirmos e aprendermos pela fé. A rebelião de Lúcifer contra o plano visou destruir o arbítrio do homem e fazer com que só recebêssemos a ação no aprendizado aqui na terra.
Considerem, irmãos, a pergunta feita pelo Pai Celestial a Adão no Jardim do Éden: “Onde estás?” (Gênesis 3:9). Obviamente o Pai sabia onde estava escondido Adão, mas mesmo assim Ele fez a pergunta. Por quê? Um Pai sábio que nos ama possibilitou que seu filho agisse no processo de aprender e não só receber a ação. Não se tratou de uma advertência só por parte de um pai para um filho desobediente, como muitos de nós estaríamos propensos a fazer, talvez. Em vez disso, o Pai ajudou Adão a aprender a agir e exercer seu arbítrio de forma ativa.
Lembrem-se, irmãos, de que Néfi desejava conhecer as coisas que seu pai, Leí, havia visto na visão da árvore da vida. É interessante notar que o Espírito do Senhor começa a lição com Néfi por fazer a seguinte pergunta: “Que desejas tu?” (1 Néfi 11:2). É evidente que o Espírito já sabia o que Néfi desejava. Então, por que fazer a pergunta? O Espírito Santo estava ajudando Néfi a agir no processo do aprendizado e não só receber a ação. (Eu gostaria que posteriormente os irmãos estudassem os capítulos 11 a 14 em 1 Néfi e notassem como o Espírito fazia perguntas, bem como pedia a Néfi para “olhar,” o que são elementos ativos do processo de aprendizado.)
Por meio destes exemplos reconhecemos que, como estudantes, os irmãos e eu devemos agir e ser cumpridores da palavra e não simples ouvintes que só recebem a ação. Será que os irmãos e eu somos agentes que agem e buscam o entendimento pela fé, ou estamos por aqui só esperando que alguém nos ensine e nos dê sem agirmos? Será que os alunos que servimos estão agindo e buscando entender pela fé, ou estão simplesmente esperando receber o ensino e a ação? Será que os irmãos e eu estamos ajudando aqueles a quem ensinamos a aprender pela fé? Os irmãos, eu e nossos alunos devemos ativamente procurar perguntar, buscar e bater (vide 3 Néfi 14:7).
Um estudante que exerce seu arbítrio através de agir de acordo com princípios corretos abre seu coração ao Espírito Santo e pede-lhe ensinamentos, poder de testemunho e confimação. Aprender pela fé requer força física, mental e espiritual e não mero recebimento passivo. É justamente por meio de nossas ações sinceras e consistentes inspiradas pela fé que mostramos ao Pai Celestial e a seu Filho, Jesus Cristo, nossa disposição para aprender e receber instruções do Espírito Santo. Assim, buscar entendimento pela fé consiste em exercer o arbítrio moral de agir conforme o firme fundamento das coisas que se esperam e receber a prova das coisas que não se veem do único professor verdadeiro, o Espírito do Senhor.
Contemplem, irmãos, como os missionários ajudam os pesquisadores a aprender pela fé. Ajudam-os a fazer e cumprir compromissos espirituais (tais como estudar e orar a respeito do Livro de Mórmon), assistir às reuniões da Igreja e guardar os mandamentos. Tudo isso requer que o pesquisador exerça fé e aja. Um dos papeis principais do missionário é o de ajudar o pesquisador fazer e honrar os compromissos, ou seja agir e aprender pela fé. Ensinar, admoestar e explicar, por importantes que sejam, nunca poderão transmitir ao pesquisador um testemunho da veracidade do evangelho restaurado. Somente ao exercer fé pode o pesquisador iniciar a ação que abrirá caminho ao coração para que o Espírito Santo possa lhe entregar um testemunho confirmador. Obviamente os missionários devem aprender a ensinar pelo poder do Espírito. De importância igual, porém, é a responsabilidade que os missionários têm de ajudar o pesquisador a aprender pela fé.
O aprendizado de que eu falo extende muito além da mera compreensão cognitiva e retenção e memorização de informações. O tipo de aprendizado a que me refiro nos faz deixar o homem natural de lado (vide Mo­sias 3:19), mudar de atitude (vide Mosias 5:2), e se converter ao Senhor e nunca mais afastar-se dele (vide Alma 23:6). Aprender pela fé requer tanto “um coração” como “ uma mente dispostos” (D&C 64:34). Aprender pela fé é o resultado do Espírito Santo levar o poder da palavra de Deus até e para dentro do coração. Não se pode transmitir o aprendizado pela fé de instrutor a aluno através de uma lição, demonstração ou exercício experimental; em vez disso, o estudante deve exercer fé e agir a fim de obter conhecimento por si mesmo.
O jovem Joseph Smith entendia por natureza o que significava buscar entendimento pela fé. Uma das experiências mais bem conhecidas da vida de Joseph Smith é a leitrua dos versículos sobre oração e fé no livro de Tiago do Novo Testamento (vide Tiago 1:5–6). Este texto inspirou Joseph a dirigir-se a um bosque perto de sua casa para orar e buscar conhecimento espiritual. Por favor, irmãos, notem as perguntas que Joseph havia formulado em sua mente e sentido em seu coração—e que levou consigo para o bosque. Ele com certeza havia se preparado para “pedir com fé” (Tiago 1:6) e agir.
Em meio a esta guerra de palavras e divergência de opiniões, muitas vezes disse a mim mesmo: Que deve ser feito? Quem dentre todos estes grupos está certo; ou estão todos igualmente errados? Se algum deles é correto, qual é, e como poderei sabê-lo? . . .
Meu objetivo ao dirigir-me ao Senhor era saber qual de todas as seitas estava certa, a fim de saber a qual me unir. Portanto, tão logo me controlei o suficiente para poder falar, perguntei aos Personagens que estavam na luz acima de mim qual de todas as seitas estava certa . . . e a qual me unir (Joseph Smith—História 1:10, 18).
Notem que as perguntas que Joseph fez focalizaram não somente no que precisava saber, e sim no que precisava fazer. E sua primeira pergunta se tratava de ação e de que se devia fazer! Sua oração não era simplesmente para saber qual das igrejas era a verdadeira. Ele perguntou a qual das igrejas deveria se unir. Ele estava decidido a agir.
Afinal, a responsabilidade de aprender pela fé e aplicar a verdade espiritual resta individualmente com cada um de nós. Trata-se de uma responsabilidade cada vez mais séria no mundo em que atualmente vivemos e ainda viveremos. O que, como e quando aprendemos é facilitado por um professor, mas não depende dele nem de métodos de apresentação, nem de assunto específico, nem do formato da lição.
Na verdade, um dos grandes desafios da nossa vida é buscar entendimento pela fé. O Profeta Joseph Smith resumiu bem o processo de aprendizado e resultados que tenho tentado descrever. Ao responder a um pedido por parte dos Doze Apóstolos que ele lhes ensinasse, Joseph explicou: “A melhor forma de obter verdade e sabedoria não é procurar nos livros, e sim dirigir-se a Deus em oração para obter o ensino divino.” 3
E em outra ocasião, o Profeta Joseph ilucidou que “ler as experiências de outrem, e até as revelações que lhes foram concedidas, jamais nos dará uma visão completa de nossa própria condição perante Deus e da verdadeira relação com Ele.” 4

Significado para Nós como Professores

Nas verdades referentes ao aprendizado pela fé de que falamos até agora há profundos sentidos implícitos para nós como professores. Vamos examinar mais ao fundo três destas entrelinhas.
Entrelinhas 1. O Espírito Santo é o único professor de verdade. O Espírito Santo é o terceiro membro da Trindade e é o professor e testemunha da todas as verdades. O Élder James E. Talmage explicou: “O ofício do Espírito Santo em seu ministério entre os homens se descreve nas escrituras. Ele é um professor enviado pelo Pai, e para aqueles que merecem seu ensino Ele revelará todas as coisas necessárias para o progresso da alma.” 5
Devemos sempre nos lembrar de que o Espírito Santo é o professor que poderá entrar no coração de quem procura aprender, quando Ele for convidado. De fato os irmãos e eu temos a responsabilidade de pregar o evangelho pelo Espírito, sim, o Consolador, como pré-requisito do aprendizado pela fé, o qual só se consegue pelo Espírito Santo (vide D&C 50:14). Neste sentido os irmãos e eu somos como os fios fininhos de vidro usados para criar cabos de fibra ótica, pelos quais os impulsos de luz são transmitidos à longa distância. Da mesma forma que tais cabos precisam ser puros para transmitir a luz eficiente e eficazmente, nós também devemos nos tornar canais dignos através dos quais o Espírito do Senhor pode funcionar.
Porém, meus irmãos, devemos cuidar de sempre nos lembrar de que ao servirmos, somos canais e não a própria luz. “Porque não sois vós quem falará, mas o Espírito de vosso Pai é que fala em vós” (Mateus 10:20). Não sou eu nem vocês que ensinam. De fato, qualquer coisa que vocês ou eu fizermos como instrutores que propositalmente chame atenção a nós, nas mensagens que apresentamos, nos métodos que usamos ou na nossa maneira de lecionar, se trata de uma forma de artimanha sacerdotal que inibe a eficácia do ensino do Espírito Santo. “Prega pelo Espírito da verdade ou de alguma outra forma? E se for de alguma outra forma, não é de Deus” (D&C 50:17–18).
Entrelinhas 2. Somos mais eficazes como professores quando incentivamos e facilitamos o aprendizado pela fé. Conhecemos o ditado que dar a um homem um peixe lhe dá uma refeição. Por outro lado, ensinar o homem a pescar dará alimento pela vida inteira. Como professores do evangelho, os irmãos e eu não distribuímos peixes, e sim, ajudamos os outros a aprender a pescar e se tornar auto-suficientes no que diz respeito à espiritualidade. É mais provável que consigamos alcançar este objetivo, se motivarmos os alunos a agirem de acordo com princípios corretos. Neste sentido devemos ajudá-los a aprender através de fazer. “Se alguém quiser fazer a vontade dele, pela mesma doutrina conhecerá se ela é de Deus, ou se eu falo de mim mesmo” (João 7:17).
Observem este princípio na prática nestes conselhos dados a Junius F. Wells por Brigham Young quando o Irmão Wells foi chamado em 1875 para formar a Organização dos Rapazes da Igreja:
Nas suas reuniões, o irmão deve começar pelo início da lista de chamada e pedir a tantos membros quanto o tempo permitir para prestarem seu testemunho e na próxima reunião, começa por onde terminou na reunião anterior e chame mais outros para que todos participem e se acostumem a ficar de pé para dizer algo. Muitos acham que não tem um testemunho para prestar, mas, ao ficar de pé, acharão que o Senhor lhes dará palavras para dizer muitas verdades que antes desconheciam. Muito mais pessoas obtiveram um testemunho ao levantarem-se para tentar prestar testemunho do que os que se ajoelharam para pedi-lo em oração. 6
O Presidente Boyd K. Packer deu conselhos semelhantes em nossos dias:
Ó, se eu pudesse ensinar-lhes este princípio. Acha-se um testemunho ao prestá-lo! Ou mais cedo ou mais tarde na sua busca de conhecimento espiritual, haverá o que os filósofos chamam “o salto de fé.” É o momento em que se chega até o ponto em que a luz não ilumina mais o caminho e se dá mais um passo ou dois no escuro e logo descobre que mais adiante o caminho volta a ser iluminada. “O espírito do homem”, como diz a escritura, “é a lâmpada do Senhor.” (Provérbios 20:27.)
É uma coisa receber um testemunho por meio de leituras ou por meio dos dizeres de outrem e, de fato, trata-se de um passo necessário. Mas é outra sentir a confirmação do Espírito em seu coração de que aquilo que se acaba de testificar é verdade. Conseguem entender que lhe será dado na hora de compartilhá-lo? Ao dar o que se tem, recebe-se a reposição daquilo, com juros! 7
Tenho observado uma caraterística em comum entre os professores que mais influenciaram minha vida. Todos eles me ajudaram a buscar conhecimento pela fé. Recusaram-se a dar respostas fáceis a perguntas difíceis. De fato, não me transmitiram a reposta, de forma alguma. Em vez disso, mostraram-me o caminho e me ajudaram a dar os passos para achar minhas próprias respostas. Eu nem sempre apreciava esta técnica, mas pela experiência própria aprendi que não se lembra por muito tempo, ou talvez nem se lembre, de uma resposta dada por outra pessoa, mas a reposta que nós descobrimos ou obtivemos pela fé, dura na memória por toda a vida. Os ensinamentos mais importantes da vida são captadas e não ensinadas.
O entendimento espiritual que os irmãos e eu recebemos pela graça de Deus, e que o Espiríto confirma em nosso coração, simplesmente não pode ser dado a outra pessoa. Para obter e possuir pessoalmente tal entendimento, tem que se pagar a matrícula, ou seja buscar com diligência e aprender pela fé. Só desta maneira é que o conhecimento que está em nossa mente pode transformar-se em algo que se sente no coração. Só desta maneira pode uma pessoa merecer tais bênçãos para si mesma, em vez de depender do conhecimento e experiências espirituais dos outros. Só desta maneira poderemos nos preparar para o porvir. Cabe a nós “buscar conhecimento, sim, pelo estudo e também pela fé” (D&C 88:118).
Entrelinhas 3. Fortalece-se a fé do(a) instrutor(a)  quando ele ou ela ajuda os outros a buscar entendimento pela fé. O Espírito Santo, que pode “ensinar [-nos] todas as coisas e [nos] fará lembrar de tudo” (João 14:26), está até ansioso para nos ajudar a aprender à medida que exercermos fé em Jesus Cristo. É interessante observar que tal ajuda divina no aprendizado se torna muito mais aparente quando ensinamos, ou em casa ou em nosso cargo na Igreja. Paulo esclareceu aos romanos: “Tu, pois, que ensinas a outro, não te ensinas a ti mesmo?” (Romanos 2:21).
Favor notarem nos seguintes versículos de Doutrina e Convênios como quem diligentemente ensina convida graça e instrução do céu: “E vos dou um mandamento de que vos ensineis a doutrina do reino uns aos outros. Ensinai diligentemente e minha graça acompanhar-vos-á, para que sejais instruídos mais perfeitamente em teoria, em princípio, em doutrina, na lei do evangelho, em todas as coisas pertencentes ao reino de Deus, que vos convém compreender” (D&C 88:77–78; trecho acrescido de letra itálica).
Contemplem o fato de que as bênçãos descritas nestas escrituras foram destinadas especificamente ao professor: “Ensinai diligentemente e minha graça acompanhar-vos-á”—para que os irmãos, professores, sejam instruídos! Consta-se o mesmo princípio no versículo 122 da mesma seção de Doutrina e Convênios: “Dentre vós designai um professor e não falem todos ao mesmo tempo; mas cada um fale a seu tempo e todos ouçam suas palavras, para que quando todos houverem falado, todos sejam edificados por todos, para que todos tenham oportunidades iguais” (D&C 88:122).
Quando todos falam e ouvem de forma séria e disciplinada, todos são edificados. Tanto o exercício individual como coletivo de fé no Salvador convida instrução e fortalecimento pelo Espírito do Senhor.

Buscar Entendimento pela Fé: Um Caso Recente

Foi uma bênção para todos nós quando a Primeira Presidência nos desafiou, em agosto, a ler O Livro de Mórmon até o final do ano. Em lançar este desafio, o Presidente Gordon B. Hinckley nos prometeu que observarmos fielmente este programa simples de leitura nos traria, à nossa casa e a nós mesmos “uma porção maior do Espírito do Senhor, uma determinação fortalecida de obedecer aos mandamentos do Senhor e um testemunho mais forte da realidade vivente do Filho de Deus.” 8
Notem como este desafio inspirado se trata de exemplo clássico do aprendizado pela fé. Em primeiro lugar, os irmãos e eu não fomos nem mandados nem forçados a ler. Em vez disso, recebemos um convite de exercer nosso arbítrio como pessoas autônimas para agir segundo princípios corretos. O Presidente Hinckley, como professor inspirado, nos incentivou a agir e não receber a ação. Cada um de nós, afinal, tem que decidir se aceita o desafio ou não, e se estamos dispostos a perdurecer até o fim da tarefa.
Segundo, ao fazer o convite, o Presidente Hinck­ley nos encorajou a buscar entendimento pela fé. Não se distribuíram nem novos materiais de estudo ao membros da Igreja, nem lições a mais, nem programas criados pela Igreja. Todos nós tínhamos nosso Livro de Mórmon na mão e desfrutávamos de um novo caminho ao coração, já alargado por nossa fé no Salvador ao aceitarmos o desafio da Primeira Presidência. Assim, estávamos preparados para receber instruções do único professor verdadeiro, o Espírito Santo.
Ultimamente tenho me impressionado muito com os testemunhos de tantos membros a respeito de sua experiências ao lerem o Livro de Mórmon. Aprenderam-se lições espirituais importantes e oportunas, transformaram-se muitas vidas e receberam-se as bênçãos prometidas. O Livro de Mórmon, um coração disposto e o Espírito Santot—é tão simples. Minha fé e a de muitos irmãos da liderança se fortaleceram ao aceitarmos o convite do Presidente Hinckley, da mesma forma que já observamos em tantos dos irmãos que agiram e aprenderam pela fé.
Como já falei, a responsabilidade de buscar entendimento pela fé cabe a todos nós como indivíduos e esta obrigação se torna cada vez mais importante ao passo que o mundo em que vivemos se torna cada vez mais confuso e inquieto. Aprender pela fé é essencial para nosso desenvolvimento espiritual pessoal e para o crescimento da Igreja nestes últimos dias. Que todos nós realmente tenhamos fome e sede de retidão e que estejamos cheios do Espírito Santo (vide 3 Néfi 12:6)—para que possamos aprender pela fé.
Presto meu testemunho de que Jesus é o Cristo, o Filho Unigênito do Pai Eterno. Ele é nosso Salvador e Redentor. Testifico que ao aprendermos dele, ao ouvirmos suas palavras e ao andarmos em humildade conforme o Espírito dEle (vide D&C 19:23), seremos abençoados com forças espirituais, proteção e paz.
Como servo do Senhor, invoco esta bênção sobre todos os irmãos, sim, para que até seu desejo e capacidade de buscar entendimento pela fé—e ajudar os outros a buscarem entendimento pela fé—cresça e melhore. Esta bênção será fonte de grandes tesouros de conhecimento espiritual em sua vida pessoal, em sua família e para aqueles que os irmãos ensinam e servem. No sagrado nome de Jesus Cristo, amém.

O Escudo da Fé - James E. Faust

         


            Meus queridos irmãos e irmãs, hoje é um dia histórico. Esta é a primeira conferência geral deste século e milênio, e a primeira a ser realizada neste grande e novo Centro de Conferências de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias. Expresso com vocês minha admiração, respeito e reconhecimento pela visão de nosso grande profeta, o Presidente Gordon B. Hinckley. Foi a sua fé e coragem que tornou esse grande projeto uma realidade.

Com certa tristeza, deixamos nosso querido Tabernáculo, o lugar onde tradicionalmente se realizavam as conferências gerais. Como o Presidente Hinckley disse: “A Igreja ficou grande demais para ele”. Queremos render tributo à fé, visão e inspiração de Brigham Young e seus companheiros que com grande fé construíram o Tabernáculo, cuja construção foi algo realmente notável. Já estive no teto do Tabernáculo, onde as madeiras da estrutura do telhado ainda estão presas com as tiras de couro cru originais. Embora o madeiramento tenha sido reforçado com aço, o criativo trabalho manual dos fiéis santos pioneiros ainda se mantém como um símbolo de sua grande fé.
Creio que o futuro será grande e maravilhoso em muitos aspectos. As oportunidades de estudo e aprendizado aumentaram e continuarão a aumentar drasticamente. Uma pessoa definiu os estudos da seguinte maneira: “Instrução é ler as entrelinhas do contrato. Experiência de vida é o que você recebe quando não o faz”.1 Hoje e no futuro, uma imensa quantidade de informações estão-se tornando mais acessíveis em todo o mundo por meio de aparelhos eletrônicos no lar, no trabalho ou na biblioteca local. No entanto, as dificuldades e problemas decorrentes dessa enxurrada de informações serão muito grandes, porque com isso a vida se tornará mais complicada. Brigham Young disse: “Foi-me revelado no início desta Igreja, que ela se espalharia, prosperaria, cresceria e se ampliaria, e que, na mesma proporção em que o evangelho se espalhasse entre as nações da Terra, de igual modo cresceria o poder de Satanás”.2
Ao entrarmos em uma nova era, temos um único caminho seguro: Prosseguir com fé. A fé será nosso escudo forte para proteger-nos dos dardos inflamados de Satanás. Os valores não deveriam mudar com o tempo porque a fé em Jesus Cristo é indispensável para a felicidade e a salvação eterna. Terminou há pouco o maior século em avanço científico e tecnológico. Mas um espírito de escuridão prevalece em nossos dias, como aconteceu há muitos séculos quando Jesus Cristo estava prestes a ser crucificado. A despeito disso, como declarou o Profeta Joseph Smith: “Nesta época, grandes bênçãos nos esperam e logo se derramarão sobre nós, se formos fiéis em todas as coisas, pois temos o direito de esperar bênçãos ainda maiores do que as recebidas pelos santos antigos, uma vez que tinham Cristo em pessoa para instruí-los sobre o grande plano de salvação. Nós não desfrutamos de Sua presença, conseqüentemente, devido às nossas condições peculiares, necessitamos de maior fé”.3 A fé é o primeiro princípio do evangelho de Jesus Cristo, conforme declarou o Profeta Joseph : “Cremos em Deus, o Pai Eterno, e em Seu Filho, Jesus Cristo, e no Espírito Santo”.4 Essa fé será o santuário de nossa alma.
Em toda a história do mundo nunca houve tamanha necessidade da fé em Deus. Embora a ciência e a tecnologia nos abram oportunidades ilimitadas, elas também apresentam grandes perigos, porque Satanás emprega essas maravilhosas descobertas para seus propósitos. A Internet, que hoje abrange todo o mundo, está carregada de informações a respeito das quais ninguém se responsabiliza quanto à veracidade ou origem. O crime tornou-se muito mais sofisticado, e a vida, muito mais perigosa. Na guerra, a matança tornou-se muito mais eficaz. Teremos que enfrentar grandes problemas no futuro, a menos que o poder da fé, o bom senso, a honestidade, a decência, o autocontrole e o caráter aumentem proporcionalmente para compensar essa expansão do conhecimento secular. Sem o progresso moral, estimulado pela fé em Deus, todas as formas de imoralidade irão proliferar e extinguir a bondade e a decência humana. A humanidade não será capaz de expressar plenamente o potencial de nobreza da alma humana, a menos que a fé em Deus seja fortalecida.
Em nossa época, a crença de que a ciência e a tecnologia poderão resolver todos os problemas da humanidade tornou-se uma religião. Ficaria desesperado em pensar que nossa salvação eterna dependesse do conhecimento científico, técnico ou secular isolado da retidão e da palavra de Deus. A palavra de Deus, conforme proclamada por Seus profetas ao longo dos séculos, não justifica nenhuma outra conclusão. Muitos crêem que as respostas transcendentais das questões da vida estão no tubo de ensaio, nos laboratórios, nas equações e nos telescópios. Essa religião da ciência ignora a resposta final da mais fundamental das perguntas: “Por quê?” Saber a causa e o efeito das coisas é algo fascinante, mas isso não explica por que estamos aqui, de onde viemos e para onde vamos. Como disse Albert Einstein: “Jamais acreditarei que Deus jogue dados com o mundo”.5
O Presidente Harold B. Lee disse, certa vez: “Não importa qual seja seu progresso na ciência, o homem precisa sempre se submeter à vontade e orientação da Divina Providência. O homem jamais descobrirá algo que Deus ainda não soubesse”.6
Não creio que esse grande avanço no conhecimento tenha acontecido por acaso. Todo esse conhecimento secular não se originou apenas da mente criativa de homens e mulheres. A humanidade já está sobre a Terra há muito tempo. Ao longo dos séculos, o conhecimento progrediu a passo de tartaruga.
Creio que a visita de Deus, o Pai, e Seu Filho, o Senhor Jesus Cristo a Joseph Smith em 1820 abriu os céus, não apenas em relação ao grande conhecimento espiritual revelado nesta dispensação, mas também com respeito ao conhecimento secular. Os antropólogos informam-nos que durante milhares de anos a expectativa média de vida do homem foi de 25 a 30 anos7. Mas desde o final do século XIX, a expectativa de vida no mundo subiu para 64 anos.8 As novas idéias, inclusive invenções e descobertas científicas de melhores maneiras de fazer as coisas, surgiam na razão de 39 ao ano, de 4.000 a.C. até 1 d.C., contrastando com as 3.840 idéias por ano durante o século XIX, enquanto que hoje elas são criadas na razão de 110.000 por ano.9
Chegamos então ao desafio de impedir que o conhecimento científico, técnico e intelectual reprima o esclarecimento espiritual em nossa vida. Como já se disse: “O recurso menos desenvolvido em nosso país é a fé; o maior poder não utilizado é o da oração”.10 A tecnologia pode ajudar-nos a comunicar-nos uns com os outros e com o mundo, mas não com Deus.
Quero deixar uma mensagem de advertência a este povo. Declaro solenemente que este reino espiritual de fé progredirá com ou sem a nossa presença individual. A mão do ímpio não poderá deter o crescimento da Igreja nem impedir o cumprimento de sua missão. Qualquer um de nós pode ser deixado para trás, seduzido pelas influências tentadoras do materialismo ou secularismo.
Para manter a fé, todos precisamos ser humildes e compassivos, bondosos e generosos para com os pobres e necessitados. A fé é mantida também por doses diárias de espiritualidade que recebemos ao ajoelhar-nos em oração. Isso começa conosco, individualmente, e estende-se para nossa família, que precisa ser fortalecida em retidão. A honestidade, a decência, a integridade e a moralidade são ingredientes necessários de nossa fé e proporcionarão um santuário para nossa alma.
A simples fé em Deus, o Pai, em Seu Filho Jesus Cristo e no Espírito Santo é como uma vigorosa fonte de força operando em nossa vida. Conforme o Élder Charles W. Penrose disse: “Algumas pessoas não acreditam em nada que não possam apreender com a razão humana ou ver com os olhos naturais. Mas abençoado é o homem de fé, abençoada é a mulher de fé! Porque por meio da fé eles podem ver coisas que não podem ser discernidas com os olhos naturais. Podem alcançar as regiões da imortalidade, compreender verdades eternas e entender as coisas de Deus!”11 Isso acontece porque, por meio da fé, nossos dons naturais e capacidade de desempenho são progressivamente aumentadas.
A fé intensifica e amplia nossos dons e habilidades. Não há maior fonte de conhecimento do que a inspiração que provém da Trindade, que compreende e conhece todas as coisas como foram, como são e como serão no futuro.
Em Haun’s Mill, uma heróica pioneira, Amanda Smith, aprendeu pela fé a fazer algo que estava além de suas habilidades e do conhecimento científico da época. Naquele dia terrível, em 1838, quando o tiroteio cessou e os arruaceiros partiram, ela voltou ao moinho e viu seu filho mais velho, Willard, carregando o irmão de sete anos, Alma, nos braços. Ela gritou: “Oh, meu Alma está morto”.
“Não, mãe”, disse ele. “Acho que Alma não está morto, mas o papai e o irmão Sardius estão mortos.” Mas não havia tempo para lágrimas naquele instante. Todo o osso do quadril de Alma tinha sido arrancado por um tiro. Mais tarde, Amanda contou o que aconteceu:
A carne, o osso do quadril, a junta e tudo o mais tinham sido arrancados pelo tiro. ( . . . ) Deitamos o pequeno Alma em uma cama em nossa barraca, e examinei o ferimento. Era uma visão terrível. Eu não sabia o que fazer. ( . . . ) Mas fiquei ali com ele, durante toda aquela longa e terrível noite, com meus mortos e meus feridos, sem ninguém além de Deus como nosso médico e adjutor. “Oh, meu Pai Celestial”, clamei, “o que devo fazer? Estás vendo meu pobre filho ferido e sabes da minha inexperiência. Oh, Pai Celestial, mostra-me o que devo fazer!” E então fui guiada como se uma voz falasse comigo.
( . . . ) Nossa fogueira ainda estava fumegando. ( . . . ) Fui instruída a apanhar ( . . . ) as cinzas, fazer uma lixívia, ensopar um pedaço de pano nela e passar diretamente sobre o ferimento. ( . . . ) Molhei o pano repetidas vezes e coloquei-o na ferida ( . . . ) e a cada vez pedaços de carne macerada e fragmentos de osso saíam junto com o pano, até que a ferida ficou branca como carne de galinha.
Depois de fazer o que me fora instruído, orei ao Senhor e novamente fui instruída tão claramente como se um médico estivesse a meu lado conversando comigo. Ali perto havia um pé de olmo de tronco liso. Foi-me dito que fizesse uma ( . . . ) cataplasma e enchesse a ferida com ela. ( . . . ) Fiz a cataplasma e cobri a ferida, sendo necessário quase 30 cm de linho para ( . . . ) fazer um curativo adequado.
Levei o menino ferido para uma casa ( . . . ) e enfaixei seu quadril; com o Senhor me orientando como antes. Lembrei-me de que no baú de meu marido havia um frasco de bálsamo. Despejei um pouco na ferida, aliviando muito a dor que Alma sentia. “Alma, meu filho”, disse eu, “você acredita que o Senhor criou o seu quadril?”
“Acredito, mãe.”
“Ora, então o Senhor pode fazer algo para pôr no lugar de seu quadril. Acredita que Ele possa fazer isso, Alma?”
“Acha que o Senhor pode fazer isso, mãe?” perguntou o menino, com simplicidade.
“Acho, sim, meu filho”, respondi. “Ele mostrou-me tudo em uma visão.”
Então deitei-o confortavelmente de bruços e disse: “Agora deite-se assim e não se mexa, que o Senhor vai fazer um novo quadril para você”.
E Alma deitou-se de bruços por cinco semanas, até recuperar-se completamente. Um tecido flexível havia crescido no lugar da articulação que faltava, algo que até hoje tem deixado os médicos admirados.
Isso aconteceu já há quase quarenta anos, mas Alma nunca foi inválido em toda a sua vida, tendo viajado muito como missionário do evangelho, e é um milagre vivo do poder de Deus.12
O tratamento foi incomum para aquela época, nunca tinha sido visto antes, mas quando chegamos a extremos, como a irmã Smith, temos que exercer nossa simples fé e ouvir o Espírito, como ela o fez. O exercício da fé tornou-a mais forte. Tal como Alma ensinou:
“Se ( . . . ) exercerdes uma partícula de fé, ( . . . ) até acreditardes de tal forma que possais dar lugar a uma porção de minhas palavras.
( . . . ) Deve ser uma boa semente, ( . . . ) a palavra é boa porque começa a dilatar-me a alma; sim, começa a iluminar-me o entendimento ( . . . )
Ora, eis que isso não aumentaria a vossa fé?”13
A retidão é companheira da fé. Adquirimos uma fé forte cumprindo os mandamentos. Isso ajuda-nos, como Paulo declarou, a “[revestir-nos] de toda a armadura de Deus”.14
Há alguns princípios absolutos em que devemos fundamentar nossa fé. Eles são verdades básicas e eternas. São eles:
1. Jesus, o Filho do Pai, é o Cristo e o Salvador e Redentor do mundo;
2. Joseph Smith foi o instrumento por meio do qual o evangelho foi restaurado em sua plenitude em nossa época;
3. O Livro de Mórmon é a palavra de Deus e, conforme declarou o Profeta Joseph Smith, a pedra fundamental de nossa religião e outro testamento de Jesus como o Cristo e Redentor de toda a humanidade.
4. Gordon B. Hinckley possui, como todos os presidentes anteriores da Igreja possuíam, todas as chaves e autoridade restauradas por Joseph Smith.
Esta é a obra de Deus. Creio e testifico que, como Paulo disse, se pudermos “[chegar] à unidade da fé, e ao conhecimento do Filho de Deus”15, poderemos prosseguir com grande esperança e confiança no futuro. Receberemos forças para vencer toda adversidade. Poderemos regozijar-nos em nossas bênçãos e ter paz na alma. Que possamos fazer essas coisas, oro humildemente, em nome de Jesus Cristo. Amém.