segunda-feira, 20 de agosto de 2012

“Deixo-vos a Paz”





    “Num sábado quente de março, acordei com o sol da manhã tocando-me o rosto. Enquanto o restante da família dormia, vesti-me e fui dar uma volta no jardim que estávamos fazendo (…) Ao olhar o jardim e nossa casa nova com todos os seus projetos, senti-me grata pelas belezas da Terra e pela felicidade que desfrutávamos.
Meu marido e eu comemorávamos nosso vigésimo aniversário de casamento e passamos o restante do dia juntos. Almoçamos no nosso restaurante preferido, refletimos sobre nossos anos juntos, nossa conversão à Igreja, o nascimento dos nossos sete filhos, os sonhos e metas que havíamos realizado. Lembramos com ternura do dia em que nos ajoelhamos no altar do Templo de Salt Lake nove anos atrás.
No fim do dia, preparamo-nos para assistir à sessão de sábado à noite da conferência da estaca. Quando entramos na pista com o carro, voltei-me para Phil e perguntei: ‘Tem certeza de que estou bem com esta blusa vermelho-vivo?’
‘Você fica bonita de qualquer jeito’, replicou ele.
Essas foram as últimas palavras que ouvi de meu marido.
Quando nos dirigíamos à capela, uma ‘pickup’ entrou na contramão. O motorista tentara ultrapassar cegamente vários carros pelas ruas e todos os esforços de evitar a colisão de frente falharam. Phil notou que o acidente não poderia ser evitado e atirou-se sobre meu corpo para me proteger.
O próximo som que ouvi foi o da equipe de resgate, cortando a lataria do nosso carro. Quando recobrei a consciência, soube que meu marido tinha morrido. Ninguém precisava dizer-me. Contudo, quando dei-me conta disso, um espírito calmo e pacífico envolveu-me. ‘Phil partiu’, sussurrou-me o Espírito. ‘Tudo ficará bem. Sua vida está em minhas mãos.’
No meio de toda a confusão, preocupação e grande perda, entendi, como nunca havia entendido antes, a paz a que Cristo se referiu quando disse: ‘Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; não vo-la dou como o mundo a dá. Não se turbe o vosso coração, nem se atemorize.
Eu sofrera uma fratura cervical e vários outros ferimentos, mas na tumultuada corrida para o hospital, ao ser interrogada pelo médico e ver a preocupação do meu bispo e do presidente da estaca, conservei-me em paz. ‘Por que estão todos tão preocupados?’ pensei. ‘Não sabem que tudo vai ficar bem?’ (…)
Quando voltei para casa do hospital, o cartão de aniversário que Phil me dera ainda estava sobre a cômoda, onde o deixara semanas antes. Senti paz novamente ao reler as palavras que me escreveu: ‘Não consigo compreender como será quando essa felicidade e esse amor continuarem a crescer pelas eternidades. Muito amor, Phil’.” [Edith Rockwood, “Peace I Leave With You” (“Deixo-vos a Paz”), Ensign, abril de 1983, pp. 30–31.]

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