quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

George Albert Smith: Ele Vivia o que Ensinava

As experiências da vida do Presidente George Albert Smith demonstram que ele não apenas acreditava no evangelho — ele o vivia.
Quase no fim de um dia estressante, John A. Widtsoe sentou-se em sua sala, “um pouco cansado depois do trabalho do dia”. Enfrentava um problema controverso e sentia o pesado fardo de suas responsabilidades. “Estava exausto”, disse ele.
Então alguém bateu na porta, e George Albert Smith entrou. Ele disse: ‘Estou a caminho de casa depois de um dia de trabalho. Pensei em você e nos problemas que você tem que resolver. Vim para consolá-lo e abençoá-lo’.
(…) Nunca me esquecerei disso. Conversamos por algum tempo, nos despedimos, e ele voltou para casa. Meu coração foi inspirado. Já não estava mais cansado.”
Relembrando essa experiência muitos anos depois, como membro do Quórum dos Doze Apóstolos, o Élder Widtsoe (1872–1952) disse: “Assim era George Albert Smith. (…) Doou de seu tempo, de sua própria força, para mim”.1
George Albert Smith (1870–1951), que serviu como o oitavo Presidente da Igreja, de 1945 a 1951, acreditava que se tivermos realmente um testemunho do evangelho de Jesus Cristo, ele se manifestará em nossa vida — principalmente na maneira como tratamos uns aos outros. “Uma vida correta e constante”, ensinou ele, “é o testemunho mais forte que poderemos prestar da veracidade desta obra”.2
Em Ensinamentos dos Presidentes da Igreja: George Albert Smith, o curso curricular do Sacerdócio de Melquisedeque e da Sociedade de Socorro para 2012, o testemunho do Presidente Smith é expresso com vigor — tanto por meio de seus ensinamentos quanto por histórias de sua vida. Seguem-se alguns exemplos de histórias e ensinamentos.

O Poder da Bondade

Num dia quente de verão, alguns trabalhadores faziam reparos na rua que passava em frente da casa do Presidente Smith. À medida que o trabalho foi ficando mais difícil e o sol, mais quente, os trabalhadores começaram a usar palavras obscenas e profanas. Logo, alguns vizinhos se aproximaram e repreenderam os trabalhadores por sua linguagem ofensiva, salientando que George Albert Smith morava ali perto. Sem se deixar impressionar, os trabalhadores começaram a dizer ainda mais palavrões.
Enquanto isso, o Presidente Smith estava na cozinha preparando uma jarra de limonada. Ele a levou para fora em uma bandeja com copos e disse aos trabalhadores: “Meus amigos, parece que vocês estão com muito calor e cansaço. Por que não vêm sentar-se sob minhas árvores aqui para tomar algo gelado?”
Com humildade e gratidão, os trabalhadores aceitaram a oferta, e depois daquela pausa agradável, terminaram seu trabalho de modo respeitoso e sereno.3
Experiências como essa demonstram a convicção de George Albert Smith de que podemos “enfrentar nossos problemas com o espírito de amor e bondade para com todos”.4 “Há quem cometa erros”, disse ele. “Há aqueles entre nós hoje que se perderam, mas eles são filhos de nosso Senhor, e Ele os ama. Ele nos deu o direito de ir até eles com bondade, amor e paciência e com o desejo de abençoar, procurando convertê-los dos erros que estão cometendo. Não é meu privilégio julgar (…). Mas é meu privilégio, se eu os vir fazendo coisas erradas, de alguma forma, se possível, fazê-los voltar para o caminho que conduz à vida eterna no reino celestial.”5
“Que alegria, que consolo, que satisfação pode ser proporcionada à vida de nossos vizinhos e amigos por meio da bondade. Como eu gostaria de escrever essa palavra em letras maiúsculas e emoldurá-las no céu. A bondade é o poder que Deus nos deu para abrir o coração endurecido e subjugar a alma teimosa.”6

Compartilhar o Evangelho

O Presidente Smith considerava a pregação do evangelho “a bondade suprema”.7 Ele reconhecia e se regozijava com a bondade que encontrava em outras igrejas, mas sabia que o evangelho restaurado tinha algo incomparável e valioso a oferecer para a humanidade.
Certa vez, quando servia como presidente de missão, alguém lhe disse: “Bem, por tudo o que ouvi falar, sua igreja é tão boa quanto qualquer outra”.
“Presumo que ele tenha achado que estivesse nos fazendo um grande elogio”, observou o Presidente Smith. “Mas eu lhe disse: ‘Se a Igreja que eu represento aqui não for mais importante para os filhos dos homens do que qualquer outra igreja, então estou equivocado em meu dever aqui’.”8
Um dos motivos pelos quais nossa mensagem é tão importante, ensinou o Presidente Smith, é o fato de que “os santos dos últimos dias são os únicos que possuem a autoridade de nosso Pai Celestial para administrar as ordenanças do Evangelho. O mundo precisa de nós”.9
Por causa disso, o Presidente Smith queria que os santos dos últimos dias sentissem “um desejo intenso e ardente de compartilhar com todos os filhos de nosso Pai as coisas boas que Ele tão generosamente nos concedeu”.10
Ele disse: “Sinto que às vezes não sentimos suficientemente a importância do [evangelho], que não o ensinamos com a sinceridade que ele exige”.11
Um amigo próximo observou como o Presidente Smith exemplificava a “sinceridade” em compartilhar o evangelho: “Em diversas ocasiões tive o privilégio de viajar de trem com o Presidente Smith. Todas as vezes, observei que, assim que a viagem começava, ele tirava da mala alguns folhetos do evangelho, colocava-os no bolso e passeava por entre os passageiros. Com seu modo cordial e agradável, ele logo fazia amizade com um companheiro de viagem, e pouco depois eu o ouvia contar a história da fundação da Igreja pelo Profeta Joseph Smith ou o êxodo dos santos de Nauvoo e suas provações e dificuldades ao cruzarem as planícies para chegar a Utah, ou explicar alguns princípios do evangelho para seus novos amigos. Ele prosseguia conversando com um passageiro após o outro, até o fim da viagem. Durante todo o tempo em que convivi com o Presidente Smith, que foram mais de quarenta anos, descobri que onde quer que ele estivesse, antes e acima de tudo ele era um missionário da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias.”12

Ensinar Nossos Filhos

George Albert Smith e sua esposa, Lucy, levavam a sério o mandamento de “[criar os] filhos em luz e verdade” (D&C 93:40). Sua filha Edith falou de uma ocasião em que o pai aproveitou uma oportunidade de ensino. Ela tomara o bonde, voltando da aula de piano, e o condutor do bonde deixara de cobrar-lhe a passagem. “Por algum motivo ele se esqueceu de mim”, contou ela, “e cheguei a meu destino ainda com o dinheiro na mão, e francamente muito animada por ter viajado de graça.
(…) Corri alegremente para contar a meu pai sobre a boa sorte que tivera. Ele ouviu meu relato pacientemente. Estava começando a pensar que eu tinha feito uma grande coisa. (…)
Quando terminei de contar, meu pai disse: ‘Mas, querida, mesmo que o condutor não saiba disso, você sabe, eu sei e o Pai Celestial sabe. Portanto, ainda há três de nós que precisam ficar satisfeitos de ver você pagar integralmente pelo que recebeu’”.
Edith voltou à esquina e pagou sua passagem quando o bonde voltou. Mais tarde, ela disse: “Sinto-me realmente grata por um pai que foi sábio o suficiente para bondosamente me apontar o erro, porque se ele o tivesse deixado passar, eu poderia achar que ele o aprovava”.13
O Presidente Smith ensinou aos membros da Igreja que o amor tem o poder de inspirar nossos filhos a viver em retidão: “Ensinem seus filhos a observarem a lei moral. Cerquem-nos com os braços de amor, para que não tenham nenhum desejo de partilhar das tentações do mal que os cercam por todos os lados”.14
“É nosso dever — eu diria nosso privilégio bem como nosso dever despender tempo suficiente para envolver nossos filhos com proteção e com tanto amor e conquistar o amor deles de modo que fiquem felizes em ouvir nossos conselhos e nossas admoestações.15

Famílias Eternas

George Albert e Lucy Smith eram casados havia 40 anos quando Lucy começou uma luta prolongada com sua saúde debilitada. Embora se preocupasse com ela e tentasse dar-lhe todo o conforto possível, os deveres do Presidente Smith como Autoridade Geral com frequência exigiam que ele ficasse longe de casa. Certo dia, depois que o Presidente Smith fez um discurso em um funeral, alguém lhe entregou um bilhete dizendo que voltasse imediatamente para casa. Ele escreveu mais tarde em seu diário:
“Saí imediatamente da capela, mas minha querida esposa dera seu último suspiro antes que eu chegasse em casa. Ela faleceu enquanto eu falava no funeral. Indubitavelmente perdi uma companheira dedicada e me sentirei solitário sem ela.”
“Embora minha família esteja muito angustiada”, escreveu ele, “somos consolados pela certeza de uma reunião com [Lucy], se permanecermos fiéis. (…) O Senhor é extremamente bondoso e fez sumir todo sentimento de morte, pelo que sou extremamente grato”.16
O Presidente Smith tirava forças e consolo de seu testemunho do plano de salvação e das ordenanças do templo que selam a família para sempre. Ele ensinou:
“Enche-nos de esperança e alegria a certeza de que nosso relacionamento neste mundo, como pais e filhos, como marido e mulher, terá continuidade no céu, e que esse é apenas o início de um grande e glorioso reino que nosso Pai reservou para herdarmos do outro lado do véu.
Se eu pensasse, como muitos o fazem, que agora que minha amada esposa e meus amados pais se foram, que eles saíram da minha vida para sempre e que jamais os verei novamente, eu ficaria privado de uma das maiores alegrias que tenho na vida: a esperança de encontrá-los novamente e de receber suas boas-vindas e seu afeto, também de agradecer a eles do fundo de um grato coração por tudo o que fizeram por mim”.17
“Quando nos dermos conta de que a morte é apenas um dos passos que os filhos de Deus darão ao longo da eternidade, e que isso está de acordo com Seu plano, a morte perderá seu aguilhão e nos veremos face a face com a realidade da vida eterna. Muitas famílias tiveram que se despedir temporariamente de seus entes queridos. Quando ocorre algum falecimento, ficamos desnorteados e, se assim o permitirmos, isso nos trará grande sofrimento na vida. Mas, se nossos olhos espirituais forem abertos e pudermos ver, seremos consolados, tenho certeza, com a visão que contemplaremos. O Senhor não nos deixou sem esperança. Pelo contrário, Ele nos deu toda a certeza da felicidade eterna, se aceitarmos Seus conselhos e Suas admoestações aqui na mortalidade.
Esse não é um sonho em vão. São fatos.”18

Amor e Serviço

O Presidente Smith talvez seja bem mais conhecido pelo amor que demonstrava às pessoas. Ele acreditava que o amor era a essência do evangelho. Ele disse aos santos: “Se o evangelho de Jesus Cristo, conforme lhes foi divulgado, não plantou em seu coração esse sentimento de amor pelos semelhantes, então quero dizer-lhes que vocês não desfrutaram a plenitude da maravilhosa dádiva que veio à Terra quando esta Igreja foi organizada”.19
Como Presidente da Igreja, o Presidente Smith abençoou a vida de milhares por meio de programas mundiais de Bem-Estar e outras iniciativas. A despeito disso, ele ainda tinha tempo para atos menores e mais pessoais de serviço. Um de seus colegas, o Élder Richard L. Evans (1906–1971), do Quórum dos Doze Apóstolos, escreveu: “Não é incomum vê-lo, antes e depois do horário de trabalho, andando pelos corredores do hospital, entrando em quarto após quarto, abençoando, encorajando e animando com sua visita inesperada em lugares nos quais sua grata presença consoladora e tranquilizadora é tão bem-vinda. (…) É característico dele ir aonde quer que sinta que possa dar uma ajuda e um incentivo”.20
O Presidente Thomas S. Monson relatou este exemplo de amor demonstrado pelo Presidente Smith: “Numa manhã fria de inverno, a equipe de limpeza de ruas [de Salt Lake City] removia grandes pedaços de gelo dos bueiros. O grupo habitual era auxiliado por trabalhadores temporários que necessitavam desesperadamente de trabalho. Um deles usava apenas um leve suéter, e era visível que sofria com o frio. Um homem esguio, com uma bem cuidada barba, parou ao lado deles e comentou: ‘Você precisa de mais agasalho do que esse suéter, numa manhã como esta. Onde está seu capote?’ O trabalhador respondeu que não tinha capote. Então o passante tirou seu próprio sobretudo e o entregou ao homem, dizendo: ‘Este capote é seu. É de lã grossa e vai mantê-lo agasalhado. Eu trabalho logo ali do outro lado’. Era a rua South Temple. O bom samaritano que entrou no Edifício de Administração da Igreja para o trabalho diário, sem o seu sobretudo, era o Presidente George Albert Smith, da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias. Aquela demonstração de abnegada generosidade revelou um coração terno. Sem dúvida, ele era o guardador de seu irmão”.21

Detalhes da Vida Cotidiana

Quer estivesse compartilhando sua fé com outros passageiros de trem ou entregando seu próprio capote a um trabalhador de rua que passava frio, o Presidente George Albert Smith estava sempre prestando seu testemunho por meio de suas ações e de seus ensinamentos. Um tema constante que é encontrado em Ensinamentos dos Presidentes da Igreja: George Albert Smith é o de que o evangelho de Jesus Cristo deve ter um impacto vigoroso em nossa vida.
Um observador disse o seguinte a respeito do Presidente Smith: “Sua religião não é feita de doutrinas indiferentes e impessoais. Não é teoria. Significa mais para ele do que um belo plano a ser admirado. É mais do que uma filosofia de vida. Para alguém com uma mente prática como a dele, a religião é o espírito no qual vive o homem, no qual ele faz coisas, mesmo que seja apenas para dizer uma palavra bondosa ou oferecer um copo de água fresca. Sua religião precisa encontrar expressão em ações. Precisa ser incorporada aos detalhes da vida cotidiana”.22
O Presidente J. Reuben Clark Jr. (1871–1961), um de seus conselheiros na Primeira Presidência, descreveu a integridade pessoal do Presidente Smith com estas palavras: “Ele foi uma daquelas poucas pessoas que podemos dizer que vivia o que ensinava”.23

D. Todd Christofferson - Reconhecer a Mão de Deus em Nossas Bênçãos Diárias

O ato de pedir e receber o pão de cada dia das mãos de Deus é uma parte vital do processo de aprendermos a confiar Nele e suportar os desafios da vida.
Lemos em Lucas que um dos discípulos do Senhor pediu: “Senhor, ensina-nos a orar, como também João ensinou aos seus discípulos” (Lucas 11:1). Jesus então deixou-nos um padrão para a oração que ficou conhecido como o Pai Nosso (ver Lucas 11:2–4; ver também Mateus 6:9–13).
Incluído no Pai Nosso está o pedido: “O pão nosso de cada dia nos dá hoje” (Mateus 6:11; ver também Lucas 11:3). Todos temos necessidades diárias em relação às quais recorremos a nosso Pai Celestial. Para alguns, trata-se literalmente do pão, ou seja, do alimento necessário para o sustento do dia. Pode também ser a força espiritual e física para lidar com mais um dia de enfermidade crônica ou com uma reabilitação dolorosamente lenta. Em outros casos, podem ser necessidades menos tangíveis, tais como coisas relacionadas às obrigações pessoais ou às atividades cotidianas: dar uma aula ou fazer uma prova, por exemplo.
Jesus ensina a nós, Seus discípulos, que devemos recorrer a Deus a cada dia para obter o pão (ajuda e sustento) necessário naquele dia específico. O convite do Senhor de que busquemos obter nosso pão de cada dia das mãos de nosso Pai Celestial fala de um Deus amoroso, ciente até das pequenas necessidades diárias de Seus filhos, e que está ansioso para ajudá-los, um a um. Ele diz que podemos pedir com fé àquele Ser “que a todos dá liberalmente, e o não lança em rosto” (Tiago 1:5). Isso é, sem dúvida, tremendamente tranquilizador, mas implica em algo bem mais significativo do que um simples auxílio para a sobrevivência diária. Ao buscarmos e recebermos diariamente o pão divino, nossa fé e nossa confiança em Deus e em Seu Divino Filho crescem.

Recorrer a Deus Diariamente

Depois de seu grande êxodo do Egito, as tribos de Israel passaram quarenta anos no deserto antes de entrarem na terra prometida. Aquela imensa multidão de mais de um milhão de pessoas tinha de ser alimentada. Sem dúvida aquele grande número de pessoas habitando no mesmo lugar não poderia subsistir da caça, e o estilo de vida seminômade que adotavam na época não era condizente com a lavoura e a pecuária em quantidade suficiente. Jeová solucionou esse problema provendo milagrosamente do céu o pão de cada dia: o maná. Por intermédio de Moisés, o Senhor instruiu o povo a coletar a cada dia o suficiente para o dia, exceto na véspera do Sábado, quando deveriam coletar o suficiente para dois dias.
Apesar das instruções específicas de Moisés, alguns tentaram coletar mais do que o suficiente para um dia, guardando o excedente.
“E disse-lhes Moisés: Ninguém deixe dele para amanhã.
Eles, porém, não deram ouvidos a Moisés, antes alguns deles deixaram dele para o dia seguinte; e criou bichos, e cheirava mal” (Êxodo 16:19–20).
Conforme prometido, porém, quando coletavam o dobro da quantidade diária normal do maná no sexto dia, ele não estragava (ver Êxodo 16:24–26). Novamente, porém, alguns não acreditaram sem ver e tentaram coletar maná no Sábado, “mas não o acharam” (ver Êxodo 16:27–29).
Provendo o sustento diário, um dia por vez, Jeová procurava ensinar fé a uma nação que ao longo de um período de 400 anos havia perdido grande parte da fé que seus pais tinham. Ele os estava ensinando a confiarem Nele. Em essência, os filhos de Israel tinham que andar com Ele hoje e confiar que Ele lhes daria uma quantidade suficiente de alimento para mais um dia, no dia seguinte, e assim por diante. Desse modo, Ele nunca estava muito longe do pensamento e do coração deles.
Assim que as tribos de Israel se tornaram capazes de sustentar-se, foi-lhes exigido que fizessem isso. Da mesma forma, quando rogamos a Deus o pão de cada dia — pedindo ajuda no momento em que não podemos provê-lo — ainda assim precisamos fazer e prover ativamente o que estiver a nosso alcance.

Confiar no Senhor

Antes de ser chamado como Autoridade Geral, tive problemas financeiros por vários anos. Eles se tornavam ora mais ora menos sérios e urgentes, mas nunca sumiram completamente. Às vezes, esse desafio ameaçava o bem-estar da minha família, e achei que poderíamos ficar financeiramente arruinados. Orei para que alguma intervenção milagrosa nos salvasse. Embora eu tivesse orado muitas vezes com grande sinceridade e anseio, a resposta no final era: “Não”. Por fim, aprendi a orar como fez o Salvador: “Todavia não se faça a minha vontade, mas a tua” (Lucas 22:42). Busquei a ajuda do Senhor a cada pequeno passo ao longo do caminho até a solução final.
Houve momentos em que exauri todos os meus recursos, em que não tinha para onde ir nem a quem recorrer para ajudar-me a atender às exigências que enfrentava. Sem ter outro recurso, em mais de uma ocasião caí de joelhos diante do Pai Celestial, implorando com lágrimas a Sua ajuda. E Ele me ajudou. Às vezes, não passava de um sentimento de paz, um sentimento de certeza de que as coisas dariam certo. Podia ser que eu não visse como ou qual seria a saída, mas Ele me fazia saber, direta ou indiretamente, que abriria um caminho. A situação mudava, uma ideia nova e útil me vinha à mente, uma renda inesperada ou outro recurso aparecia bem no momento certo. De alguma forma, havia uma solução.
Embora eu tenha sofrido na época, sinto-me grato por não ter havido uma solução rápida para meus problemas. O fato de eu ter sido obrigado a recorrer a Deus para pedir ajuda quase diariamente durante um longo período de anos me ensinou realmente a orar e a obter a resposta de minhas orações, e ensinou-me de modo bem prático a ter fé em Deus. Aprendi a conhecer meu Salvador e meu Pai Celestial de um modo e em um nível que de outra forma talvez não tivesse acontecido ou então teria levado bem mais tempo. Aprendi que o pão de cada dia é um bem precioso. Aprendi que o maná de hoje pode ser tão real quanto o maná tangível da história bíblica. Aprendi a confiar no Senhor de todo o coração. Aprendi a andar com Ele dia a dia.

Resolver Problemas

O fato de pedirmos a Deus nosso pão de cada dia, em vez de nosso pão semanal, mensal ou anual, também é um meio de enfocar as porções menores e mais administráveis de um problema. Quando lidamos com algo demasiadamente grande, talvez tenhamos de trabalhar nele em porções pequenas e diárias. Às vezes, tudo o que podemos fazer é encarar cada dia (ou mesmo só uma parte do dia) por vez.
Na década de 1950, minha mãe sobreviveu a uma cirurgia radical de câncer, seguindo-se dezenas de sessões de radioterapia muito dolorosas. Ela contou que sua mãe lhe ensinou algo naquela época que a ajudou muito posteriormente.
“Eu estava tão fraca e doente, que disse a ela um dia: ‘Oh, mãe, não vou suportar mais dezesseis sessões assim’.
Ela perguntou: ‘Consegue aguentar a de hoje?’ ‘Sim.’
‘Bem, querida, isso é tudo o que você tem que fazer hoje.’
Algo que me ajudou em muitas ocasiões foi lembrar de viver um dia ou uma coisa por vez”.
O Espírito pode mostrar-nos quando devemos olhar para frente e quando devemos lidar apenas com o dia de hoje, com o momento atual.

Atingir Nosso Potencial

O ato de pedir e receber o pão de cada dia das mãos de Deus é uma parte vital do processo de aprendermos a confiar Nele e suportar os desafios da vida. Também precisamos de uma porção diária do pão divino para tornar-nos quem precisamos ser. O processo de arrepender-nos, melhorar e, por fim, atingir “a medida da estatura completa de Cristo” (Efésios 4:13), como disse Paulo, é gradual. A incorporação de hábitos novos e saudáveis em nosso caráter, ou a superação de maus hábitos ou vícios, muito frequentemente significa um esforço diário seguido de outro no dia seguinte, e depois outro e mais outro, talvez por muitos dias, ou até por meses e anos, até que a vitória seja alcançada. Mas podemos fazê-lo, porque podemos recorrer a Deus para obter nosso pão de cada dia: a ajuda necessária a cada dia.
O Presidente N. Eldon Tanner (1898–1982), Primeiro Conselheiro na Primeira Presidência, disse: “Ao refletirmos sobre o valor da resolução de melhorar, decidamos usar de autodisciplina no sentido de selecionar cuidadosamente as resoluções que tomamos, considerar nosso propósito ao tomá-las e, finalmente, comprometer-nos a cumpri-las, sem permitir que qualquer obstáculo nos detenha. Lembremo-nos, no início de cada dia, que podemos cumprir uma resolução para aquele dia, somente”.1
O Élder David A. Bednar, do Quórum dos Doze Apóstolos, ensinou recentemente que a constância em práticas diárias simples, como a oração familiar, o estudo das escrituras e as noites familiares, é fundamental na edificação de uma família bem-sucedida. “Nossa constância em fazer coisas aparentemente pequenas”, disse ele, “pode levar a resultados espirituais significativos”.2
O Presidente Ezra Taft Benson (1899–1994), falando do arrependimento, deu este conselho: “Precisamos tomar cuidado, ao procurar tornar-nos cada vez mais [semelhantes a Cristo], para que não desanimemos e percamos a esperança. O processo de tornar-nos semelhantes a Cristo é uma jornada de toda uma vida que geralmente envolve um crescimento e uma mudança que são lentos, quase imperceptíveis”.3

Buscar a Ajuda do Senhor ao Servir

Lembrem que devemos pensar não apenas em nós mesmos quando buscamos uma porção diária do pão divino. Se quisermos tornar-nos como o Mestre, Aquele que veio não “para ser servido, mas para servir” (Marcos 10:45), buscaremos Sua ajuda para prestar serviço ao próximo, dia a dia.
O Presidente Thomas S. Monson vive esse princípio melhor do que qualquer pessoa que conheço. Há sempre presente em seu coração uma oração pedindo que Deus lhe revele as necessidades e os meios para que ele auxilie as pessoas a seu redor, a qualquer dia ou a qualquer momento do dia. Um exemplo da época em que ele foi bispo ilustra o fato de que, às vezes, até um pequeno esforço pode, com a atuação do Espírito, render frutos extraordinários.
“Um dos que o [Presidente Monson] ajudou foi Harold Gallacher. A mulher e os filhos eram ativos na Igreja, mas Harold não era. Sua filha Sharon havia pedido ao bispo Monson se ele poderia ‘fazer algo’ para trazer o pai de volta à atividade. Como bispo, ele sentiu-se inspirado a procurar Harold, certo dia. Era um dia quente de verão quando ele bateu na porta de tela da casa de Harold. O bispo viu Harold sentado em sua poltrona, fumando um cigarro e lendo o jornal. ‘Quem é?’ perguntou Harold, mal-humorado, sem erguer o olhar.
‘Seu bispo’, respondeu Tom. ‘Vim conhecê-lo e pedir que frequente nossas reuniões com sua família.’
‘Não, estou muito ocupado’, foi a resposta desdenhosa. Ele nem ergueu os olhos. Tom agradeceu-lhe por ouvir e foi embora. A família se mudou sem que Harold fosse às reuniões.
“Anos depois, (…) o irmão Gallacher telefonou para o escritório do ÉlderThomas S. Monson e pediu para marcar uma entrevista com ele.
(…) Quando se encontraram, mais tarde, eles se abraçaram. Harold disse: ‘Vim me desculpar por não ter me levantado da poltrona e deixado você entrar naquele dia quente de verão, há muitos anos’. O Élder Monson perguntou se ele [estava] ativo na Igreja. Com um sorriso torto, Harold respondeu: ‘Sou o segundo conselheiro no bispado de minha ala. Seu convite para que eu fosse à Igreja e minha recusa me incomodaram tanto que tive de fazer algo a respeito’.”4

Fazer Escolhas Diárias

A lembrança de nosso pão de cada dia nos mantém cientes dos detalhes de nossa vida, do significado das pequenas coisas que ocupam nossos dias. A experiência ensina que, no casamento, por exemplo, uma série constante de simples atos de bondade, de ajuda e de atenção faz muito mais para manter o amor vivo e para nutrir o relacionamento do que um ocasional gesto grande e dispendioso.
Da mesma forma, nas escolhas diárias podemos impedir que certas influências insidiosas entrem em nossa vida e se tornem parte do que somos. Em uma conversa informal que o Élder Neal A. Maxwell (1926–2004) e eu tivemos há alguns anos com um líder do sacerdócio em uma conferência de estaca, observamos que uma pessoa pode evitar em grande parte a pornografia e as imagens pornográficas, simplesmente fazendo boas escolhas. Na maioria das vezes, basta apenas exercer a autodisciplina de não ir aonde existe pornografia, tanto no mundo real quanto na Internet. Reconhecemos, porém, que por ser tão tragicamente difundida, a pornografia pode pegar de surpresa uma pessoa que esteja simplesmente ocupada com seu dia a dia. “Sim”, observou o Élder Maxwell, “mas a pessoa pode rejeitá-la imediatamente. Não precisa convidá-la a entrar e oferecer-lhe uma cadeira para sentar-se”.
O mesmo acontece com outras influências e hábitos. Nossa atenção diária no sentido de evitar essas coisas desde que elas comecem pode impedir que venhamos, num dia futuro, a descobrir que, por descuido nosso, um mal ou uma fraqueza se enraizou em nossa alma.
Na verdade, não há muitas coisas que sejam totalmente sem importância em um determinado dia. Até as coisas comuns e repetitivas podem ser tijolos minúsculos, mas importantes que, com o tempo, vão edificar a disciplina, o caráter e a ordem necessários para realizar nossos planos e sonhos. Portanto, ao orarem pelo seu pão de cada dia, pensem com cuidado em suas necessidades, tanto no que lhes falta quanto nas coisas contra as quais precisam se proteger. Ao se deitarem, pensem nos sucessos e fracassos do dia e nas coisas que farão o dia seguinte ser um pouco melhor. E agradeçam ao Pai Celestial pelo maná que Ele colocou ao longo de seu caminho e que os sustentou durante o dia. Suas reflexões vão aumentar sua fé Nele, ao verem que a mão Dele os ajudou a suportar algumas coisas e a mudar outras. Vocês conseguirão regozijar-se em mais um dia, em mais um passo rumo à vida eterna.

Lembrar o Pão da Vida

Acima de tudo, lembrem-se de que contamos com Aquele que era simbolizado pelo maná, o próprio Redentor.
“Eu sou o pão da vida.
Vossos pais comeram o maná no deserto, e morreram.
Este é o pão que desce do céu, para que o que dele comer não morra.
Eu sou o pão vivo que desceu do céu; se alguém comer deste pão, viverá para sempre; e o pão que eu der é a minha carne, que eu darei pela vida do mundo” (João 6:48–51).
Presto-lhes meu testemunho da realidade viva do Pão da Vida, Jesus Cristo, e do poder e do alcance infinitos de Sua Expiação. Em última análise, é a Sua Expiação, Sua graça, que constitui nosso pão de cada dia. Devemos buscá-Lo diariamente, fazer Sua vontade a cada dia, para tornar-nos um com Ele, como Ele é um com o Pai (ver João 17:20–23). Ao fazermos isso, que nosso Pai Celestial nos conceda o pão de cada dia.